Outro Sentido 2007

1. Amor de mel, amor de fel

(Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves)
 
Tenho um amor
Que não posso confessar...
Mas posso chorar
Amor pecado, amor de amor,
Amor de mel, amor de flor,
Amor de fel, amor maior,
Amor amado!
 
Refrão:
 
Tenho um amor
Amor de dor, amor maior,
Amor chorado em tom menor
Em tom menor, maior o Fado!
Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado!
 
Foi andorinha
Que chegou na Primavera,
Eu era quem era!
Amor pecado, amor de amor,
Amor de mel, amor de flor,
Amor de fel, amor maior,
Amor amado!
 
Refrão:
 
Tenho um amor
Amor de dor, amor maior,
Amor chorado em tom menor
Em tom menor, maior o Fado!
Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado!
 
Fado maior
Cantado em tom de menor
Chorando o amor de dor
Dor de um bem e mal amado!

2. Eu já não sei


(Domingos Gonçalves Costa / Carlos Rocha)
 
Eu já não sei
Se fiz bem ou se fiz mal
Em pôr um ponto final
Na minha paixão ardente
Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente
 
Quando te vejo e em sonhos sigo os teus passos
Sinto o desejo de me lançar nos teus braços
Tenho vontade de te dizer frente a frente
Quanta saudade há do teu amor ausente
Num louco anseio, lembrando o que já chorei
Se te amo ou se te odeio
Eu já não sei
 
Eu já não sei
Sorrir como então sorria
Quando em lindos sonhos via
A tua adorada imagem
Eu já não sei
Se deva ou não deva querer-te
Pois quero às vezes esquecer-te
Quero, mas não tenho coragem

3. Fado menor

(Maria Manuel Cid / Fado menor)
 
Fado menor meu castigo
Meu pecado original
Que trago sempre comigo
Sem ter feito nenhum mal
 
Velhinho levas a vida
A pedir por quem padece
E quem a sente perdida
Confia na tua prece
 
Saudade, tristeza, amor
Em cada nota dolente
São preces do cantador
A rezar por toda a gente
 
Nenhuma dor já sofrida
Pode igualar o tormento
De cantar a dor da vida
E morrer de sofrimento

4. Quando tu passas por mim

(Vinicius de Moraes / Antônio Maria)
 
Quando tu passas por mim
Por mim passam saudades cruéis,
Passam saudades de um tempo,
Em que a vida eu vivia a teus pés.
Quando tu passas por mim
Passam coisas que eu quero esquecer
Beijos de amor infiéis, juras que fazem sofrer.
 
Quando tu passas por mim,
Passa o tempo que me leva pra trás,
Leva-me a um tempo sem fim
A um amor onde o amor foi demais.
 
Eu que só fiz adorar-te e de tanto te amar
Penei mágoas sem fim,
Hoje nem olho pra trás
Quando tu passas por mim.

5. Para que quero eu olhos

(Tradicional da Beira Baixa)
 
Para que quero eu olhos
Senhora Santa Luzia
Se eu não vejo o meu amor
Nem de noite nem de dia
 
Oh és tão linda, és tão formosa
Como a fresca rosa que no jardim vi
Oh dá-me um beijo
Pra matar o desejo que sinto por ti

6. Lábios que beijei

(Álvaro Nunes / Leonel Azevedo)
 
Lábios que beijei
Mãos que eu afaguei
Numa noite de luar assim
O mar na solidão bramia
E o vento a soluçar pedia
Que fosses sincera para mim
Nada tu ouviste
E logo partiste
Para os braços de outro amor
Eu fiquei chorando
Minha mágoa cantando
Sou a estátua perenal da dor
Passo os dias soluçando com meu pinho
Carpindo a minha dor, sozinho
Sem esperanças de vê-la jamais
Deus, tem compaixão deste infeliz
Por que sofrer assim?
Compadecei-vos dos meus ais
Tua imagem permanece imaculada
Em minha retina cansada
De chorar por teu amor
Lábios que beijei
Mãos que eu afaguei
Volta, dá lenitivo à minha dor

7. Nem às paredes confesso

(Artur Ribeiro / Francisco Trindade / Max)
 
Não queiras gostar de mim
Sem que eu te peça
Nem me dês nada que ao fim
Eu não mereça
Vê se me deitas depois
Culpas no rosto
Isto é sincero
Porque não quero dar-te um desgosto
 
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
E até aposto
Que não gosto de ninguém
Podes rogar, podes chorar, podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
 
Quem sabe se te esqueci
Ou se te quero
Quem sabe até se é por ti
Por quem eu espero
Se gosto ou não afinal
Isso é comigo
Mesmo que penses que me convences
Nada te digo

8. A nossa contradição

(Aldina Duarte / Alfredo Duarte)
 
Não sei dizer que não ao teu olhar perdido
Sabendo que depois irás partir de mim
Eu tenho um coração a bater noutro sentido
Ao contrário de nós dois, não tem tempo, nem tem fim.
 
Não sei o que dizer em nome da tristeza
Se tu não me quisesses, se eu não te procurasse
Andamos sem saber, ao lado da certeza
Se Deus não nos dissesse
Se Deus não nos calasse.
 
Nas estrelas sem luar o destino não tem mão
Nem o céu pode mudar a minha contradição
Hei-de matar à vontade toda a dor e qualquer medo
E na tua liberdade encontrar o meu segredo…

9. Chamateia

(António Melo Sousa / Luís Alberto Bettencourt)
 
No berço que a ilha encerra
Bebo as rimas deste canto
No mar alto desta terra
Nada a razão do meu pranto
 
Mas no terreiro da vida
O jantar serve de ceia
E mesmo a dor mais sentida
Dá lugar à chamateia
 
Oh meu bem
Oh chamarrita
Meu alento, vai e vem
Vou embarcar nesta dança
Sapateia, oh meu bem
 
Se a sapateia não der
Pra acalmar minh´alma inquieta
Estou pro que der e vier
Nas voltas da chamarrita
 
Chamarrita, sapateia
Eu quero é contradizer
O aperto desta bruma
Que às vezes me quer vencer

10. Fadista louco

(Alberto Janes)
 
Eu canto com os olhos bem fechados
Que o maestro dos meus fados
É quem lhes dá o condão
E assim não olho pra outros lados
Que canto de olhos fechados
Pra olhar pra o coração.
 
Meu coração que é fadista de outras eras
Que sonha viver quimeras
Em loucura desabrida
Meu coração, se canto, quase me mata
Pois por cada vez que bata
Rouba um pouco a minha vida
 
Ele e eu, cá vamos sofrendo os dois
Talvez um dia, depois dele parar pouco a pouco
Talvez alguém se lembre ainda de nós
E sinta na minha voz o que sentiu este louco.

11. Outro sentido
12. Ao sul

(J. Monge)
 
Ao sul
À procura do meu norte
Subo as águas desse rio
Onde a barca dos sentidos
Nunca partiu
 
Lá longe
Inventei o dia azul
E o desejo de partir
Pelo prazer de chegar
Ao Sul
 
Cada um tem a sina que tem
Os caminhos são sempre de alguém
Ao Sul
 
Ao Sul
Entre dois braços abertos
Bate um coração maltês
Que se rende, que se dá
De vez
 
Por amor
Corto os frutos que criei
Corto os ramos que estendi
Pela raiz que abracei
Ao Sul
 
Cada um tem a sina que tem
Os caminhos são sempre de alguém
Ao Sul

13. Foi Deus

(Alberto Janes)
 
Não sei, não sabe ninguém
Porque canto fado, neste tom magoado
De dor e de pranto…
Neste tormento, todo sofrimento
Eu sinto que a alma cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus, que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar
Foi Deus que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
 
Pôs as estrelas no céu
Fez o espaço sem fim
Deu o luto as andorinhas
Ai…e deu-me esta voz a mim
 
Se eu canto, não sei porque canto
Misto de ventura, saudade, ternura ou talvez amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando, se tem um desgosto
E o pranto no rosto nos deixa melhor
Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar
Foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
 
Fez o poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu flores à primavera
Ai…e deu-me esta voz a mim

14. Bilhete

(Ivan Lins / Vitor Martins)
 
Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tuas malas
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia das chaves por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos seus
Boa sorte, adeus…

15. Fado partido

(Ricardo Cruz / Pedro Luis)
 
Todo o pranto será, sim
Para mostrar
Que partida não é fim
É recomeço
É o avesso do luto
Um renascer
O fado vem esclarecer
 
Um azul ultramar
Num brilho florescerá
Pra matizar este destino
Descortinar o tom do enredo
Que tão cedo
Fez o fruto do arvoredo
Vingar
 
Cada vez que voltar sei
Será melhor
E a saudade que deixei
Será lembrança
Mansa, bela e suave
Vai flutuar
O fado virá confirmar
 
Flores a perfumar
E rios a desaguar
Virão temperar os oceanos
A nos separar
Em continentes
Mas já juntos
Sorridentes
Vamos só recordar
 
Todo pranto será , sim
Para mostrar
Que partida não é fim
Só um recomeçar
É o avesso do luto
Um renascer
Meu fado vem esclarecer

16. Se tu soubesses

(Cristovão de Alencar / Georges Moran)
 
Quando estou perto de ti
quero confessar-te tudo
mas eu juro meu amor que tenho medo
quando olhas para mim eu fico mudo
e não consigo revelar o meu segredo.
 
Se tu soubesses como estou apaixonado,
se tu soubesses como é grande o meu amor,
ao ouvir a canção que eu fiz a chorar
talvez teu coração me quisesse escutar...
 
Se tu soubesses como estou desesperado,
Se tu soubesses como é grande a minha dor
Eu bem sei que virias sorrindo para mim
Se tu soubesses que eu estou sofrendo assim
Se tu soubesses porque estou sofrendo assim.